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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO


Quando no fim da década de oitenta, início da de noventa, me debrucei sobre o tema valores em educação, pude concluir, embora esse não fosse o objetivo do trabalho, que, na década de noventa, iríamos estar perante o boom da comunicação.

Pois parece que aconteceu, como previra. Hoje, dia 3 de Dezembro, contam-se vinte anos, sobre o envio da primeira mensagem através de SMS, com votos de Feliz Natal. E, de então para cá, como evoluíram os meios técnicos postos ao nosso alcance!

Pois nem mesmo com a perfeição da técnica se evitam situações embaraçosas, resultantes de falhas humanas. Aconteceu-me sábado. Descia as escadas. Ao ombro carregava o saco com roupa para o fim de semana, na mão esquerda levava mais umas coisas e com a direita ia escrevendo uma mensagem que pretendia enviar a um amigo. Como fiz não sei, mas em vez de a enviar a uma pessoa, enviei a outra. Fico zangadíssima quando sou protagonista de situações destas. Sinto-me info-excluída. Sei que nada mais há a fazer senão pedir desculpa a quem incomodei e voltar a enviar a mensagem, desta vez para quem pretendia, mas que fico zangada, é um facto.

Mas se fosse só isto que fizesse… Uso o dicionário para gastar menos tempo e muitas vezes, por falta de atenção as mensagens seguem com falta de palavras ou têm letras a menos. O meu amigo ASS, devolve-me as mensagens com a recomendação.”Lê o que escreveste. Não entendo isto” E eu apetece-me responder, “se não sabes, inventa”, mas encho-me de paciência e emendo o que escrevi para que nada lhe falte.

Nessa tarde, eu ia para Lisboa. O neto tinha feito sete anos durante a semana e o jantar da família seria nesse sábado. Pois à mesa, a minha filha mais velha, queixa-se de cansaço e, segundo dizia, andava tão mal que, em vez de mandar os apontamentos de Economia aos alunos, como seria suposto, os enviara para o Jardim de Infância que a filha, de um ano, frequenta. “E será que as crianças já apreenderam os conceitos?” – perguntou o sogro. “Não sou só eu…” – pensei, associando-me à brincadeira que tal facto ocasionou.

Pois, não acontece só com o SMS nem só comigo. Também acontece com o servidor de email. Habitualmente recebo emails que se destinam a uma advogada da zona do Porto. E o que passei até descobrir?! Os primeiros emails eram assinados por uma tal Z., dando-se o caso de eu conhecer uma pessoa com esse nome invulgar, sem que tenhamos a convivência necessária para os desabafos que eu lia. Preocupada e desejosa de ajudar de algum modo, perguntava a outros amigos “Tem visto a Z?” “Ela está bem?” a resposta invariavelmente referia que nada sabiam dela, pois há muito que ninguém a via, mas que constava que estava com problemas com o marido. “Mas que problemas?” O texto dos emails referia problemas com “ele”… Ninguém sabia e martirizava-me pensar que tinha merecido os seus desabafos e não conseguia ajudar… Um dia encontro-a: “Então como vais? Ninguém sabe de ti…” “o meu marido tem estado tão doente… Nem queiras saber o que tem sido”. Aquilo não encaixava com as lamurias que, de vez em quando eu recebia. E os emails foram chegando até que, num mais pormenorizado, me apercebo se tratava de questões laborais. Só poderiam ser dirigidos a uma advogada. Respondo: Minha senhora não serei, por certo, a Isabel Soares que pretende contactar. Recomendo que verifique, com atenção o endereço de email…

Mas a porta pareceu abriu-se. Atrás dos emails que refiro, outros vieram. Contas da referida advogada para pagar; tricas de que os advogados por vezes necessitam para se situar; relatórios de contas e por ai fora… Mas não ficamos por aqui. A Câmara de Matosinhos já me mandou apresentar sem falta ao serviço, avisando que se não o fizesse seria punida por lei e um agrupamento de escolas, situado também para essas bandas, no início do ano letivo, multiplicou-se em planificações.  

As planificações corrijia-as sugerindo, quando as devolvo, as alterações que me parecem pertinentes. Fiz esse trabalho durante tantos anos que nem consigo resistir. Também não deixo de pasmar com o facto de os professores, nove anos após a minha aposentação, estarem a planificar cada vez pior. Não posso generalizar, mas posso garantir que, nas planificações que avaliei, há uma indesculpável confusão entre objetivos e atividades e entre estas e as estratégias. Abstenho-me de referir a gestão do tempo…

Nunca recebi resposta a não ser do senhor das tricas, que se congratulava com o facto de ser discreto, o que me levou a questionar o que seria ser indiscreto, do técnico de informática que compusera o PC à advogada, jovem que me endereçou um pedido de desculpas, absolutamente desnecessário, acompanhado da sua foto com a mulher e o cão, provando-me, dizia ele, que era uma pessoa de bem, coisa de que aliás nunca fora posta em questão. Com o responsável pela educação na Câmara de Matosinhos ainda troquei dois ou três emails bem dispostos e ficou-se por aí.

Para além de se apostar no desenvolvimento da tecnologia, porque não apostar também, na reciclagem dos utilizadores. Eu já estou na fila. Sou a primeira e como já estou cansada de estar sentada à espera, vou dormir e sonhar com os anjos.

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